quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Refletindo Galeano III

A televisão/3

"A tevê dispara imagens que reproduzem o sistema e as vozes que lhe fazem eco; e não há canto do mundo que ela não alcance. O planeta inteiro é um vasto subúrbio de Dallas. Nós comemos emoções importadas como se fossem salsichas em lata, enquanto os jovens filhos da televisão, treinados para contemplar a vida em vez de fazê-la, sacodem os ombros.
Na América Latina, a liberade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação. Os livros não precisam ser proibidos pela polícia: os preços já os proíbem."

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Celebração da desconfiança

"No primeiro dia de aula, o professor trouxe um vidro enorme:
- Isto está cheio de perfume - disse a Miguel Brun e aos outros alunos -. Quero medir a percepção de cada um de vocês. Na medida em que sintam o cheiro, levantem a mão.
E abriu o frasco. Num instante, já havia duas mãos levantadas. E logo cinco, dez, trinta, todas as mãos levantadas.
- Posso abrir a janela, professor? - suplicou uma aluna, enjoada de tanto perfume, e várias vozes fizeram eco. O forte aroma, que pesava no ar, tinha-se tornado insuportável para todos.
Então o professor mostrou o frasco aos alunos, um por um. Estava cheio de água."